O Tribuna de Jundiaí preparou um ‘Entrevistão’ muito especial para o mês da mulheres, com a jornalista jundiaiense Rayra Okumura, idealizadora do time de futebol amador da cidade o ‘Jogamigas’.
Ela revela como foi transformar um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em um dos destaques esportivos da cidade, que trouxe mais representatividade para as mulheres que praticam o esporte na região.
Leia a entrevista na íntegra:
Tribuna de Jundiaí: O Jogamigas surgiu após o seu TCC, certo? Quando o projeto começou você imaginava que ele cresceria tanto a ponto de ser eleito como destaque esportivo em Jundiaí?
RO: Sim, na verdade eu jamais podia imaginar que ele duraria depois da conclusão do meu curso, não era a intenção continuar porque tinha outros planos para a minha vida após a faculdade e sempre levei como um projeto experimental, que foi criado para ser estudado e avaliado. Ele ter crescido só mostrou o quão importante era ele continuar mesmo depois do fim da minha faculdade, por mais que antes eu não entendesse isso, o Jogamigas sempre foi mais do que um projeto, é a realização de um sonho meu que se tornou a realização do sonho de cada uma delas também. Nunca imaginei que chegaríamos tão longe pela forma que a modalidade ainda é tratada no Brasil e principalmente em Jundiaí, mal sabia eu que isso que me daria mais vontade de fazer com que ele crescesse, mostrar a importância de projetos como esse na cidade.
TJ: O que o troféu de destaque esportivo 2019 representa para o time? Como foi participar de um evento bastante disputado no esporte regional?
RO: Para o time representou uma luz, uma colheita de tudo que vem sendo trabalhado ao longo do ano e uma resposta de que devemos continuar, que por mais difícil que a modalidade seja, a gente tem muitos motivos para seguir e não desistir. E mais do que isso, representou o que foi o ano de 2019 para todas as mulheres no futebol feminino, vencer foi incrível, e representativo também, gostaria de vencer para mostrar que mais do que nunca as mulheres que jogam, gostam, torcem, apreciam a modalidade também merecem espaço, reconhecimento e que também temos nossos valores, dons, talentos e capacidade para muitas outras conquistas como essa. Participar de um evento como esse foi uma dos frutos que colhemos com muito carinho e vamos guardar na história do nosso time em um lugar especial, espero que seja o primeiro de muitos.
TJ: O reconhecimento do time aumentou após o time receber o título?
RO: Sim, principalmente de moradores da cidade que não conheciam o Jogamigas e que também não imaginavam a força da modalidade na cidade, que só cresce mais e mais. O futebol feminino não deve ser só conhecido e apreciado por mulheres e vice-versa, fazer com os homens também entendam e reconheçam nossa “existência” também faz parte da importância de estarmos aqui. É sobre mulheres também saberem jogar futebol e terem a oportunidade de aprenderem a jogar também e não sobre mulheres serem melhores que os homens no futebol.
TJ: Qual é a sua relação com o time? Como você administra sua rotina com o Jogamigas?
RO: Eu sempre brinco que existem duas “Rayra’s”, a Rayra antes do Jogamigas e a Rayra depois do Jogamigas, porque atualmente esse time é a minha segunda casa, minha segunda família, minha segunda escola, meu segundo emprego. Minha relação é como se fosse um filho, mesmo! Hoje é a maior prioridade na minha vida pelo valor que dou a tudo que consegui por meio dele. Aprendi muita coisa com a história de cada uma das meninas que já conheci por conta do time, pude fazer com que outras pessoas pudessem entender a importância dele, minha família é uma delas, ele foi capaz de mudar até isso, minha relação com a minha própria família e por isso valorizo ainda mais a existência dele e essa relação que tenho. Minha rotina com o time já foi mais complicada porque queria fazer tudo dentro do time com medo de que algo não saísse conforme eu planejei ou que não perdesse a essência do Jogamigas, então precisei separar tarefas para dividir as responsabilidades e também horários fixos da minha semana para conseguir me dedicar a outros planos da minha vida também. Então hoje eu cuido “apenas” de toda gestão administrativa do time e entendo minha posição e função dentro da equipe. Também tenho dias da semana certos para cuidar dessas coisas que envolvam o Jogamigas, tento estar em todos os jogos e pelo menos um dos treinos semanais, assim fico perto das meninas e resolvo pendências pessoalmente também.
TJ: O time começou com quantas integrantes? E, atualmente, quantas jogadoras fazem parte Jogamigas?
RO: Lembro que no primeiro treino que marquei do Jogamigas foram 9 meninas, minhas próprias amigas que reuni pelas minhas redes sociais, o primeiro campeonato que disputamos, 19 atletas representaram nosso time. Atualmente, o time de competição é formado por 25 atletas e o grupo do WhatsApp com todas as interessadas em participar dos treinos livres conta com 201 mulheres.
TJ: Você acredita que o Jogamigas trouxe visibilidade para o futebol feminino na região?
RO: Sim, e isso é meu maior motivo de orgulho, sei que hoje o Jogamigas é uma porta para muitas mulheres que nunca tiveram oportunidade de conhecer o esporte, ou a porta para as que tiveram que parar de praticá-lo por algum motivo no passado e querem voltar, mas mais do que isso é ponte para que as mulheres possam ter coragem para começarem e entenderem seu espaço na modalidade, na sociedade e em espaços majoritariamente masculinos. Hoje uso da minha visibilidade para alcançar o maior número de pessoas que eu consigo para levar a importância da modalidade em questão, da nossa essência e força dentro do esporte, o Jogamigas é uma das formas mais fáceis que encontrei para conseguir isso. Por isso tento sempre me colocar no lugar de cada uma e essa é a diferença de conseguir uma visibilidade maior na região, fazer o que ninguém faz, agir como eu gostaria que agissem comigo e pensar que independente de que time faço parte, ainda sim sou mulher e ainda sim sou uma mulher no universo futebolístico.
TJ: Quais são as expectativas para o time neste ano?
RO: Como a modalidade está crescendo cada vez mais na cidade, nossa expectativa é que esse ano o número de competições de futebol aumentam também, então estamos trabalhando em cima disso, manter a equipe sempre renovada, bem treinada tecnicamente e fisicamente também, conseguir melhorias para a modalidade num geral e trabalhar firme para as competições. Quanto ao lado social, levar o futebol feminino ao maior número de mulheres possível, mostrar o que esse esporte é de verdade e a importância de estarmos ganhando espaço dentro dele.
Para acompanhar os próximos jogos, se liga na programação!
- 15 e 22/03 – 1° Torneio Solidário Vista Alegre / a partir das 8h30 – CECE Romão de Souza;
- Em agosto (sem data definida) – IV Copa Cajamar de Futsal Feminino.
Clique aqui e confira a agenda completa no Instagram oficial do time.