Com foco no planejamento, prefeito Luiz Braz projeta uma nova Campo Limpo Paulista
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Entrevistão

Com foco no planejamento, prefeito Luiz Braz projeta uma nova Campo Limpo Paulista

Desenvolvimento social e planejamento de ações estratégicas são prioridades para o prefeito

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Luiz Braz
No início do mandato, prefeito vistoriou situação do hospital: primeiro grande desafio (Foto: Divulgação/Facebook)

Na sequência da série de entrevistas do Tribuna de Jundiaí com os prefeitos da Aglomeração Urbana de Jundiaí (AUJ), neste domingo o foco será Campo Limpo Paulista. Cidade com aproximadamente 80 mil habitantes e um orçamento de R$ 220 milhões para 2021, o grande foco da atual gestão é, além do combate à Covid19, o desenvolvimento social e o planejamento de ações estratégicas para fazer o município se desenvolver.

O responsável por isso é um velho conhecido da cidade: o médico Luiz Antônio Braz (PSDB), 62 anos, que comanda a administração campolimpense pela terceira vez – ele foi prefeito de 1997 a 2000 e de 2001a 2004.

No gabinete, ele falou ao Tribuna sobre os desafios e lembrou que o grande segredo para os próximos anos de mandato é planejar.

“Estamos nos baseando num ano totalmente atípico, porque não é um ano normal para nenhuma prefeitura, devido à Covid. Ele foi bom para que possamos planejar, porque vamos viver a Prefeitura em sua plenitude no ano que vem, quando poderemos colher todos os frutos do que planejamos este ano”, destacou.

Confira:

Tribuna de Jundiaí – O senhor já foi prefeito da cidade em duas oportunidades e as informações pós- eleição de 2020 eram de que Campo Limpo Paulista não vivia uma boa fase administrativo-financeira. Como encontrou a Prefeitura ao tomar posse este ano?

Luiz Antônio Braz – É a terceira vez que estou prefeito e eu nunca deixei de ter um ativismo político. Perdi a última eleição por 12 votos, então sempre estava olhando, acompanhando. Meu último trabalho foi na FIA (Fundação Instituto de Administração) da USP (Universidade de São Paulo), como analista especializado em políticas públicas. Meu último projeto foi durante a pandemia, quando desenvolvemos uma leitura de Raio X simples para diagnóstico de Covid, pensando muito no interior do país, sabe? Naquele cara que só tem um médico e um aparelho de Raio X simples para os atendimentos.

Quando ganhei a eleição, não estava longe das políticas públicas e eu sei o que tenho de fazer. Mas quando cheguei, todo mundo falava que iria pegar uma armadilha. Não acreditava nisso, até porque há toda uma legislação que precisa ser seguida, uma condição que deixa o prefeito limitado em muitas coisas. Mas, acredite: isso aqui estava mesmo cheio de armadilhas. E o que são elas? Contratos totalmente malfeitos, desde à concepção, na licitação, em que se dou continuidade, acaba caindo em um crime de improbidade.

O (serviço) social sem cadastro nenhum, não sabia o que tinha acontecido no passado. Só tínhamos uma retro (retroescavadeira) funcionando, contratos de manutenção esquisitos demais, compra de remédios errada. O atendimento à Covid, desde a prevenção até o encaminhamento quando se fazia o diagnóstico, totalmente errado. Aqui, se preconizava muito o tratamento precoce, que é um absurdo. Foi um susto, realmente, ao ponto de nenhum secretário querer assinar um documento sequer que tivesse vindo da outra administração.

E o que resultou isso tudo? Em 20 sindicâncias, mais ou menos, de contratos que estávamos analisando e que, agora, terão desdobramentos: vão ser encaminhados ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas. E não porque eu queira perseguir, não olho para trás. Eu olho para a frente, que é o que me interessa. Mas fiz o que tinha de ser feito, senão eu seria conivente com muitas coisas.

Temos R$ 20 milhões em dívidas de curtíssimo prazo e outros R$ 60 milhões a médio prazo. Mas, enfim, uma coisa que sempre me policiei é no fato de que estou prefeito e não vim aqui para reclamar, vim para resolver. O passado será mostrado a partir destas ações que foram tomadas. O que me irrita nisso tudo é a oposição que, mesmo com tudo isso, não para! Não conseguimos sequer concluir uma licitação de tapa-buraco ou aluguel de máquinas, porque sempre no último dia alguém impugna (o processo licitatório). Isso vai para o Tribunal de Contas, que tem mais de 600 cidades para analisar, entra numa fila e não nos deixa dar uma satisfação à população daquilo que precisamos fazer.

Em março, Dr. Luiz faz anúncio da chegada de um novo supermercado e mais 250 empregos (Foto: PMCLP)

Tribuna – E quais são os projetos encaminhados nos 100 primeiros dias de administração? O que a população teve já do seu governo, prefeito?

Luiz Braz – Como te disso, estamos olhando para a frente. Lançamos agora o Empório Social, que é um projeto muito voltado para a atualidade. Ele trata da segurança como um todo, não só da alimentar: da perda do vínculo familiar, tudo o que essa pandemia trouxe em termos danosos à população, principalmente de baixa renda. Ele te dá o peixe, mas ensina a pescar: para ter acesso à segurança social ou mesmo ao encaminhamento, ele precisa fazer o curso de capacitação com a gente. Quando isso acontece, ele recebe um dinheiro virtual, que pode ir até o Empório e pegar o que precisa. Não é mais a cesta pela cesta, simplesmente.

O mais importante é a parceria com as igrejas para a execução deste projeto, que cederam a estrutura e os voluntários, junto com todos os profissionais da Prefeitura, para tocar este projeto. Além de ser algo muito humano, trata-se de algo extremamente técnico, com acompanhamento das assistentes sociais para acompanhamento de metas e o sucesso do nosso cliente, que é o cidadão mais necessitado.

Todo o Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Sebrae) é nosso parceiro, também, na realização do Empório Social, no que diz respeito aos cursos e a certificação dos participantes, inclusive para que eles possam buscar depois o emprego na área pretendida.

Na Educação, demos outro passo muito importante. Tivemos o desafio da aula não presencial e conseguimos criar 900 salas virtuais, tendo o Google Education como parceiro. Foi um belo desafio, mas está longe de termos resolvido. Agora estamos mapeando onde está a deficiência deste sistema, seja do professor que não tem o computador ou mesmo o aluno que não tem o equipamento. Agora estamos focando muito nas crianças vulneráveis, tanto de fome quanto no aprendizado, para levá-las de volta à escola, com toda a segurança que o momento exige, obviamente.

Estamos fazendo, também, um parque que será uma “escola sem muros”. Isso veio para ficar, porque a gente entende que a criança que se manifesta e se envolve com as questões do meio ambiente será, no futuro, mais preparada.

Nesta linha, criamos uma Secretaria de Meio Ambiente para dar uma identidade à cidade. Pegamos todos os principais gestores, fizemos diversas reuniões para discutir isso, criar uma referência desde o visual até a sua vocação, aquela do “turismo de um dia” que costumamos chamar. Campo Limpo Paulista tem um visual incrível, possui trilhas que nem mesmo os campolimpenses conhecem. Por isso estamos preparando um plano para isso.

No mundo pós-pandemia, vai ser importante a volta do convívio social e, por isso, já estamos planejando a revitalização das praças.

Estamos, também, revisando todo o Plano Diretor, porque é o indutor do crescimento da cidade voltado a esse viés do turismo, mas também ao meio ambiente. Precisamos corrigir coisas incríveis que aconteceram na cidade, também, como a aprovação de loteamentos de pequenos terrenos em áreas de grande inclinação, aclive, declive… além de estar enganando quem adquire esses terrenos, porque em muitos casos a pessoa só tem condições de comprar ali, acabam jogando para a Prefeitura a maior parte das obras de infraestrutura.

“Minha missão, naquele exato momento, era abrir uma UTI com 10 leitos em 10 dias. E nós conseguimos! Além disso, mais 50 novos leitos respiratórios nesses mesmos 10 dias. E por que tivemos êxito? Porque o hospital que eu projetei e o Armando (Hashimoto, ex-prefeito que sucedeu Luiz Braz) construiu tinha condições de receber um hospital de campanha dentro das próprias instalações. Aproveitamos toda a estrutura que o hospital já nos dava: lavanderia, nutrição, oxigênio líquido. Tudo num prazo recorde!”

Tribuna – A Saúde, até por conta de tudo o que estamos enfrentando desde o ano passado, deve ter sido um capítulo à parte nesta história, não?

Luiz Braz – A Saúde, acredito, foi o nosso maior ganho porque encontrei um hospital que, na verdade, tinha virado um grande posto de saúde que fazia partos. Não tinha mais nada, ali, de (atendimento à) complexidade: não tinha UTI e fizeram um contrato de último mês de UTI que foi um absurdo! Pagava um fixo e o prestador não tinha nem de prestar contas de quantos pacientes tinha atendido, se é que atendeu porque não havia nada.

Antes da chegada da segunda onda (da Covid19), nós percebemos que isso iria pegar em toda a região. O que mais nos alertou e nos deixou amedrontados foi que a contaminação passou dos mais idosos, que você consegue fazer com que permaneçam em casa, para os mais jovens. Assim que assumimos, foi muito triste chegar em um hospital totalmente despreparado e ver internar famílias inteiras, cinco membros de uma mesma família. E quando começou a ficar naquela situação de leito sem UTI, paciente sem oxigênio.. meu Deus, tivemos de agir muito rapidamente!

Minha missão, naquele exato momento, era abrir uma UTI com 10 leitos em 10 dias. E nós conseguimos! Além disso, mais 50 novos leitos respiratórios nesses mesmos 10 dias. E por que tivemos êxito? Porque o hospital que eu projetei e o Armando (Hashimoto, ex-prefeito que sucedeu Luiz Braz) construiu tinha condições de receber um hospital de campanha dentro das próprias instalações. Aproveitamos toda a estrutura que o hospital já nos dava: lavanderia, nutrição, oxigênio líquido. Tudo num prazo recorde!

O Governo do Estado me ajudou demais nisso, que bancou a maior parte dessa estrutura, além da parceria que fizemos com Jarinu e Várzea Paulista para que também ajudassem com esse custeio. Fizemos, aqui, um mini Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde) resolvendo os problemas da nossa região em relação à Covid. Ajudou demais a região, porque temos um hospital grande e bonito, mas que voltou a ser bem útil porque também passou a aliviar os leitos de UTI e respiratórios de Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista, Jarinu e de Jundiaí, que a nosso pedido passou a assumir os partos (das três cidades vizinhas).

Na verdade, transformamos o nosso hospital em especialista no tratamento da Covid, algo raro no país. Temos UTI, tomografia 24 horas, ecografia, hemodiálise… nos tornamos um hospital referencial para este tipo de atendimento. Este foi o grande ato da Saúde, mas não ficou só nisso.

Começamos a atender os atrasados, principalmente em relação aos exames. Haviam duas situações: uma fila enorme de pessoas que aguardavam este tipo de atendimento porque o município até então não oferecia e as pessoas, com medo da pandemia, também não procuravam o serviço pelo medo de se contaminar. Só depois que se sentiram um pouco mais seguras é que voltou à totalidade (da demanda).

As campanhas de vacinação estão indo bem, seja nas igrejas para evitar aglomeração, no drive thru ou nos postos, com uma resposta bastante organizada à população. Tivemos um problema só, que foi pontual: uma auxiliar de enfermagem, que estamos analisando o caso em relação a ela ter aplicado a vacina ou não (num paciente).

Tribuna – E como foi possível fazer tudo isso depois do histórico que o senhor passou em relação à situação da Prefeitura?

Luiz Braz – Existe um conceito que é o da “administração 4.0”, que é baseada na transparência, na efetividade e potencialização dos próprios recursos e, principalmente, na transversalidade. Todos os setores e departamentos da Prefeitura se conversam, ou seja, tudo o que te falei até agora não custou para o município porque eu peguei o que cada gestor tinha de melhor na sua área para criar os projetos.

A Estação Juventude é um exemplo claro disso, na medida em que todos os projetos voltados aos jovens partem de áreas como o esporte, a capacitação. No esporte, inclusive, estamos planejando levar as atividades para os bairros e, deste trabalho, tirar os melhores atletas para treiná-los no alto rendimento. Queremos começar a colocar Campo Limpo Paulista de volta nos grandes campeonatos regionais, seja de que modalidade for.

Dentro deste plano, inclusive, nós tivemos a aprovação do Conselho da Juventude de toda a estrutura técnica para poder fazer a Estação Juventude andar em vários destes segmentos. Este é um exemplo de transversalidade, porque passa por todas as secretarias. Todas mesmo, até Obras, com os estagiários.

Tribuna – Todo município tem alguma peculiaridade em relação às áreas essenciais, seja na segurança, na educação, no transporte… qual é o maior desafio, aqui?

Luiz Braz – Campo Limpo Paulista é a segunda cidade mais pobre da Aglomeração em relação à renda per capita, mas é um município com uma vontade muito grande de crescer e se fixar como um município importante, seja em vários aspectos como a prestação de serviços e o turismo. E, principalmente, mostrar que o cidadão tem valor.

O desafio é trazer emprego e empresas, trazer renda. Vou ser bem sincero: Campo Limpo Paulista foi muito maltratada nas duas últimas gestões, andamos muito para trás, mas nossa missão é recuperar e avançar em todos os aspectos, principalmente na alto estima das pessoas em relação à cidade. Até para que ela possa participar junto conosco destes projetos.

Não sou favorável aos incentivos fiscais para empresas. A cidade, por exemplo, tem uma posição geográfica muito interessante em logística. Eu prefiro dar um curso do Senai para que os funcionários desta empresa sejam campolimpenses, do que oferecer qualquer incentivo fiscal e a empresa contratar trabalhadores de outras cidades.

O empresário vem para cá e ele recebe mão de obra especializada, daqui da cidade, para ser ainda mais produtivo. Acho que isso vale mais. Estamos colaborando com o lançamento de um distrito, aqui no Jardim Laura. Temos supermercados vindo para cá e outras empresas olhando para Campo Limpo Paulista, o que nos dá perspectivas boas em relação à geração de empregos.

“Tenho a convicção, também, de que devemos atuar cada vez mais de forma regional, principalmente em relação à Aglomeração Urbana de Jundiaí e o Cias (Consórcio Intermunicipal do Aterro Sanitário). Tem certas ações que são regionais e as principais, a meu ver, estão em saúde, transporte, segurança e abastecimento de água. Isso, para mim, está mais do que claro que há necessidade de agir regionalmente. Fizemos isso na saúde e deu certo, imagine nas ações de segurança, com a integração das câmeras de segurança, ou no transporte, com uma tarifa única para todas as cidades da Aglomeração, um Samu regional? Vou atuar nisso, com toda certeza!”

Tribuna – Vivemos um momento político no país muito complicado, em todas as esferas de governo e isso, obviamente, afeta os municípios. Qual é a situação, aqui?

Luiz Braz – Eu não fico quieto, pois tenho a plena noção de que uma das funções principais do prefeito é correr atrás de investimentos para a cidade, sejam eles da iniciativa privada ou governamentais. Tenho falado muito com os deputados estaduais e federais, independentemente de partido. O conceito que colocamos para toda a equipe é que quando você assume a prefeitura, o seu partido se chama Campo Limpo Paulista. Então nós conversamos com todos, pedimos ajuda e queremos que todos participem dessa evolução e melhoria da nossa cidade.

O governo estadual tem sido parceiro e o federal eu ainda não tenho como dizer porque me parece que o orçamento libera agora e nós temos algumas emendas, lá. Mas acredito que destravando o orçamento isso venha para o município.

Tenho a convicção, também, de que devemos atuar cada vez mais de forma regional, principalmente em relação à Aglomeração Urbana de Jundiaí e o Cias (Consórcio Intermunicipal do Aterro Sanitário). Tem certas ações que são regionais e as principais, a meu ver, estão em saúde, transporte, segurança e abastecimento de água. Isso, para mim, está mais do que claro que há necessidade de agir regionalmente. Fizemos isso na saúde e deu certo, imagine nas ações de segurança, com a integração das câmeras de segurança, ou no transporte, com uma tarifa única para todas as cidades da Aglomeração, um Samu regional? Vou atuar nisso, com toda certeza!

Prefeito se diz motivado para encarar os desafios da cidade nesta nova administração: experiência (Foto: Facebook)

Tribuna – O que reserva o futuro para Campo Limpo Paulista, na visão do prefeito? O que as futuras gerações podem esperar?

Luiz Braz – Acredito muito que Campo Limpo Paulista será uma cidade de destaque regionalmente, com todos estes projetos que já falei. Estamos fazendo tudo com muita certeza, para fazer a coisa certa e no rumo certo.

São desafios enormes para a cidade elaborar um plano de habitação não só em relação às áreas invadidas, mas também priorizando o campolimpense. Isso está grudado ao Plano Diretor, que está atrelado ao Plano de Identidade (da cidade), que está junto com o Plano Econômico da cidade.

Temos uma Câmara de Vereadores voltada à cidade, em ajudar, e isso é muito importante numa discussão como essa que vamos iniciar do Plano Diretor.

E gostaria de agradecer, também, ao jornalismo neste novo momento que estamos vivendo. A imprensa gera informação, que por sua vez gera o conhecimento, responsável por nos dar o caminho a seguir. E como é importante o jornalismo levar às pessoas a informação verídica, que conquista a população para a verdade e cativa para a participação de todos neste processo que estamos vivemos. Nosso agradecimento a todos!

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