Professora Arabelle, destaque do prêmio 'Educador Nota 10', fala sobre desafios e conquistas da profissão
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Entrevistão

Professora Arabelle, destaque do prêmio ‘Educador Nota 10’, fala sobre desafios e conquistas da profissão

“A gente não vai talvez fazer a diferença na vida de todos que vão passar pela gente, mas se a gente fizer em algum deles a gente já tem uma comunidade melhor”, diz professora

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Professora Arabelle, destaque do prêmio 'Educador Nota 10', fala sobre desafios e conquistas da profissão
Arabelle e alunas (Foto: Divulgação/Prêmio Professor Nota 10)

A professora de Jundiaí, Arabelle Calciolari, docente da EMEB Maria Angélica Lourençon, no Parque Corrupira, foi recentemente premiada a como uma das 10 vencedoras do maior e mais importante prêmio da educação básica brasileira, o Prêmio Educador Nota 10. Seu trabalho, sobre os Beatles para a disciplina de inglês, foi reconhecido nacionalmente.

Na última terça-feira, dia 15, foi comemorado o Dia do Professor. Em alusão à data, o Tribuna de Jundiaí entrevistou a professora para saber mais sobre o projeto e sobre os principais desafios e conquistas dentro de uma sala de aula. Confira:

Em primeiro lugar, porque você decidiu ser professora? O que te tocou para seguir essa profissão?

Eu decidi ser professora porque eu gostava muito de ler, gostava muito de livros. No Ensino Médio eu tive uma professora muito legal de literatura e eu lembro que eu me interessei muito pela matéria e acabei decidindo fazer Letras para dar aula de literatura. Só que eu já falava inglês e comecei a dar aula de inglês logo no primeiro e acabei não saindo mais da língua inglesa.

Durante a premiação do Educador Nota 10 você falou que quase desistiu da escola quando criança e que isso também foi uma motivação para você. Pode falar um pouco sobre?

Na sexta série eu realmente queria parar de estudar, estava muito desanimada. Eu tive uma professora de matemática que me acompanhou até a sexta série e eu não gostava das aulas dela, eu ia muito mal na matéria. As outras matérias também acabaram sendo passadas para mim de uma forma muito tradicional que eu não gostava. Naquele ano eu até fiquei de recuperação de matemática, fiquei bem chateada. Mas na sétima série eu encontrei a professora Alexandra que me mostrou que eu conseguiria sim aprender matemática. Eu me animei, comecei a ir bem. No Ensino Médio passei até a ajudar algumas colegas que tinham dificuldade. Hoje, desde que comecei a dar aula, a primeira coisa que eu quero que meus alunos sintam é amor por mim e pelas aulas de inglês. A minha primeira batalha em relação a sala de aula é esse vínculo afetivo, porque eu sei, sou um exemplo vivo, de que se eles gostaram de mim e da minha matéria a aprendizagem vai ser mais fácil e natural para eles.

Como foi que surgiu esse projeto sobre os Beatles?

O projeto dos Beatles surgiu porque, depois de uma capacitação que a gente teve aqui na Rede de Ensino sobre música, foi pedido para que a gente levasse uma música que a gente gostasse para as crianças, não uma música infantil, das que a gente já usa na aula, mas uma música de uma banda que a gente gostasse. Aí eu resolvi levar uma música dos Beatles e lembrei que eu tinha um livro infantil sobre a banda. Reli o livro e vi que eu podia usar a história deles para fazer um projeto diferente, porque em todas as sequências e projetos que eu faço eu tento levar alguma questão mais social para a gente discutir. E nesse livro eles falam da segregação, da Guerra do Vietnã, então eu vi uma oportunidade de mostrar para eles o que foi essa época, porque eu tinha quase certeza que eles não sabiam sobre isso e acabei montando o projeto pensando nisso. Então além da ampliação de repertório cultural, porque é uma música que eles não conhecem, eu ainda ia poder explorar esse contexto histórico e social da época.

Você quis, mais do que língua inglesa, abordar cidadania e conceitos históricos com seus alunos. Qual a importância disso?

Eu tenho outros projetos. Tenho um projeto sobre o Shakespeare por exemplo, que a gente discute muito o papel da mulher na época. Falo um pouco para eles da questão do dote, que a mulher só casava se tivesse um dote. Falo também sobre a Rainha Elizabeth, falo que ela era sensacional, porque naquela época ela não quis casar e nem ter filhos porque achava que os homens iam tirar o poder dela se casasse. Discuto com eles que as mulheres não podiam ser atrizes na época e isso gera uma série de discussões e trago para o dia a dia. Aí eu pergunto sobre quem faz a limpeza na casa deles, se todo mundo ajuda e é incrível que até hoje a gente tem respostas de que “minha mãe que faz”, “é minha mãe que tem que fazer”. Já faz cinco anos seguidos que eu faço esse projeto e todos os anos escuto essa resposta. Quando eu comecei com esse projeto que eu percebi que eu poderia discutir essas questões sociais na sala com eles, fui criando outras coisas e cheguei nisso dos Beatles. É minha obrigação mostrar para eles o que aconteceu, para que nada disso se repita. É bom que eles ficam indignados com essas coisas, porque é sinal de que eles não vão permitir que isso aconteça novamente. E também a gente acaba refletindo sobre porque a gente vive algumas coisas como preconceito racial e as questões de desigualdade de gênero.

Você imaginava que teria toda essa repercussão, que seu projeto ganharia entre os 10 melhores do Brasil? Como foi ter feito parte disso?

Eu me inscrevi achando que o que eu fazia era normal, porque eu sempre dei aula assim. Eu acho que é minha obrigação dar aula assim. Se a gente for parar para pensar é até triste você pensar que só algumas pessoas fazem esse tipo de trabalho em sala de aula. Eu me inscrevi achando que não daria em nada e desde o primeiro momento que minha selecionadora entrou em contato dizendo que faríamos uma entrevista foi muito emocionante, porque é o reconhecimento do seu trabalho. Eu trabalho nessa escola há 9 anos, distante do Centro, ninguém vê muito o que acontece por aqui. Eu me sentia valorizada pelos meus alunos, obviamente, porque eu recebo muito amor e carinho deles. Além deles, as minhas coordenadoras do núcleo de língua estrangeira achavam legal os meus projetos. Mas fora dessas duas partes eu não tinha esse reconhecimento. A primeira entrevista que eu fiz com a selecionadora já foi muito legal, porque alguém totalmente fora da minha realidade, de outra cidade, apenas leu meu projeto inscrito e já gostou dele. Eu fui passando pelas outras fases, fiz algumas entrevistas e depois ouvi  muitos falando o quanto era importante e especial o que eu estava fazendo. Foi muito bom ter esse reconhecimento e saber que muitas pessoas vão se inspirar pelas minhas práticas.

E, para finalizar, o que você tem a dizer sobre a profissão? Você acredita que vocês, professores, têm o poder de “mudar o mundo”?

O que eu tento falar em todas as minhas entrevistas é que a nossa vida realmente não é fácil. Não é porque eu ganhei um prêmio que as minhas aulas são perfeitas. Eu também tenho minhas dificuldades, a escola também tem coisas que poderiam melhorar. Mas apesar de toda essa situação, de não ter todos os recursos que eu gostaria de ter, eu não desisti e eu faço tudo que eu posso pelas crianças. Às vezes é 10h da noite e eu to baixando vídeo, baixando coisa para mostrar para eles. O meu recado para os professores é que a gente precisa parar de achar que as coisas de fora nos atrapalham e a gente tem que enxergar ali no aluno que eles merecem. Mesmo que sejam dois ou três por sala que vão gostar da nossa aula e do projeto. A gente não pode desistir. A gente não vai talvez fazer a diferença na vida de todos que vão passar pela gente, mas se a gente fizer em algum deles a gente já tem uma cidade melhor, uma comunidade melhor.

Os problemas externos eles estarão em todos os lugares, em todas as profissões e a gente tem que parar de focar nisso. A gente tem que focar no nosso papel como professor, que é mostrar que existe todo um mundo musical, cultural e histórico aí fora. Eu sinto isso toda às vezes que entro na sala de aula que eu tenho que passar o máximo possível de conhecimento para essas crianças e mostrar o que está no mundo externo. Eu tenho que escutar e ver a necessidade deles para que eu possa trazer mais, para que eles possam ser mais. Para que no futuro eles possam ter uma qualidade de vida também melhor. Porque se eles forem pessoas que viveram outros estímulos eles podem ter mais chances de entrar em uma faculdade, ter um emprego melhor. A gente está ali na sala de aula para que lá na frente eles possam colher os frutos de tudo isso que eles viveram com a gente.

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