Nascido em Jundiaí e radicado no Guarujá, apesar de cruzar os oceanos e viver na água, Rodrigo Koxa ainda nutri sua conexão com a cidade natal. Viveu na Terra da Uva até adolescência, se mudou para o litoral e de lá, para o mundo.
Koxa se dedicou ao surf, encarou as ondas gigantes e há dois anos detém o recorde mundial de maior onda já surfada – com incríveis 24,38 metros. Expoente da modalidade no Brasil e grande incentivador da nova geração, aos 40 anos ele conta sobre suas lembranças em Jundiaí, conquistas e avisa: ainda não é hora de parar.
Confira a entrevista completa:
Tribuna de Jundiaí: Guarda alguma lembrança da infância em Jundiaí?
Rodrigo Koxa: Eu guardo sim. Acho que a que mais marcou a minha infância foi jogar bola no Jardim Figueiras, era uma quadra que tinha ali perto do trilho do trem e eu passava muito tempo ali jogando futebol. Eu lembro de Jundiaí com muito carinho, andava muito de skate nas ruas da cidade. E minha vó, minha família toda, meus tios e minhas tias… Toda a minha família é de Jundiaí, então sempre foi um lugar marcado na minha vida como aquela lembrança de família, de datas comemorativas.
TJ: Metade jundiaiense e metade guarujaense. Para seus fãs do interior, você é talvez o maior ícone de representatividade no mundo do surf. Ser ídolo dos jovens de Jundiaí e de todo o Brasil é honra ou responsabilidade?
RK: Eu nem diria que sou metade, eu acho que sou os dois. É uma junção. Me sinto jundiaiense e guarujaense. Os dois fizeram a minha história. Um em questão de família, de valores e o outro em questão até da minha projeção profissional, treinando nas praias do Guarujá e sendo acolhido também pela cidade.
É uma junção que me dá tanto honra, de representar a galera, quanto responsabilidade também. Acho que eu consegui conquistar um sonho. Para um cara que sonha em surfar onda gigante e conseguir a maior do mundo também tem esse lado de também passar uma mensagem legal.
TJ: Rodando pelas praias de todo o mundo, você ainda visita, quando pode, a cidade natal?
RK: Sempre volto para Jundiaí com a Aline (esposa). Tanto meus pais, quanto os pais dela são de Jundiaí. Sempre estamos na cidade em datas comemorativas e em alguns finais de semana. Meus voos são sempre por Viracopos justamente para eu passar por ali. Voltar para ver a família é muito gostoso.
TJ: Você já detém o recorde há dois anos. Encarar as ondas de Nazaré sempre tem uma expectativa especial de bater um nova marca?
RK: Ser detentor do recorde já é uma realização imensa na minha vida, foi um sonho realizado. Hoje eu surfo como eu sempre surfei, com amor, me conectando. As coisas pra mim ocorrem de forma natural e eu sempre vou procurar surfar assim. Se eu for bater mais um recorde, está na mão de Deus.
Agora é surfar, continuar fazendo o que eu amo. Foi com amor que consegui minhas conquistas e vou continuar neste caminho: curtindo o que faz, fazendo com carinho, com atenção, com respeito e com amor. Essa é a minha proposta.
TJ: Buscar pelas big waves, diferente de outras categorias, tem seus desafios. Quais são as lutas e as glórias em optar pelas ondas gigantes?
RK: Buscar pelas ondas grandes é um caminho que eu escolhi quando eu era novo. Eu tinha 13 anos e eu vi uma matéria que falava sobre big rides e eu já falei naquele momento que eu queria surfar as ondas grandes, eu não entendia muito na época porque não havia muita mídia, não tinha rede social, então foi por paixão mesmo.
E o esporte foi evoluindo, foi cada vez mais indo para os lugares e eu atrás, procurando conhecimento. Então foi um desafio mesmo para mim. Ao mesmo tempo que foi natural, também me ensinou a ter muito respeito pelo dia a dia, pela vida, porque eu acredito que você ama a vida e ali, na água, ela nos ensina muito.
Eu tento ser uma pessoa boa dentro e fora do mar, fazer coisas maneiras. As ondas gigantes me ensinam muito sobre consciência, sobre me analisar, sobre eu aprender a trabalhar os meus medos. Eu acho que o oceano é um pai.
Sobre carreira…
TJ: O que o esporte, em especial o surf, trouxe para a sua vida?
RK: O surf me mostrou a importância de você se identificar com alguma coisa, de você fazer alguma coisa, de dar o seu melhor e de respeitar o que você está sentindo.
Quando eu comecei a surfar eu fiquei apaixonado – como muitos, né? – mas eu quis levar isso além, queria pegar onda grande, queria aprender; e esse processo pra mim, fica a lembrança das escolhas que eu precisei fazer neste caminho, sempre com suporte familiar também, mas eu deixei de fazer faculdade, deixei de fazer muitas coisas que também poderia ter me alavancado profissionalmente, mas eu sempre optei pelo lado da minha alma ali, que era abandonar a faculdade – e muita gente não entendia, às vezes até eu não entendia.
Eu sei que eu tive a ousadia de viver esse sonho e hoje eu entendo muito que eu tinha um propósito de seguir o sonho da minha vida de que era mesmo pegar ondas espetaculares.
O surf me ensinou isso: de não desistir de um sonho, de acreditar num sonho.
TJ: As lições aprendidas no mar também são aplicáveis no dia a dia?
RK: No mar, se você não planeja, se você subestima, se você não estuda ou analisa, você pode passar um perrengue desnecessário e pode acabar até com a sua própria vida. O dia a dia é isso: ter que confiar na equipe, nos amigos e nas pessoas que trabalham ao redor, acreditar no que você gosta de fazer, investir nos melhores equipamentos, dar o seu melhor, estar ali presente.
Tudo isso se você aplicar no seu dia a dia, só de estar presente em cada ação que você estiver, como ocorre no mar, vale bastante.
TJ: Quais são os próximos planos para a vida e carreira profissional?
RK: Meus planos são continuar surfando, treinando, fazer palestras motivacionais e trabalhar com o esporte. Estou investindo também nessa projeção do surf de onda grande no Brasil e fora, acho que tem muito a crescer nossa modalidade.
Sou uma cara que quer que o esporte cresça. Como eu fui um apaixonado, também vejo uma nova geração gostando disso e me enche de orgulho ver que a gente, eu e vários outros surfistas, fomos incentivo para que o Brasil gerasse excelentes surfistas da onda grande.