Até novembro de 2019, foram registrados 2.877 casos de dengue em Jundiaí. Em todo o Brasil, os casos chegaram a 1.544.987 em 2019, um aumento de 488% em relação a 2018, segundo dados do Ministério da Saúde. Desse total, 782 pessoas morreram em todo o país.
No verão 2019/2020, a previsão é que o número de pessoas infectadas no município seja ainda maior, devido ao aparecimento do sorotipo 2 da doença, que há mais de dez anos não é registrado em Jundiaí.
Para atender a população de Jundiaí e região, o Tribuna de Jundiaí vai reunir as principais informações que possam auxiliar os moradores a se protegerem da doença.
Casos registrados em 2020
Até 5 de fevereiro deste ano, houveram 91 casos notificados de dengue em Jundiaí, destes, apenas 15 foram confirmados. 67 já apontaram como negativos e foram descartados e 9 aguardam resultado.
Dois 15 casos confirmados até o momento, 13 são “importados”, isto é, quando o paciente contrai a doença em uma área diferente da que vive, muito comum no período de viagens de fim de ano e férias.
Os outros dois casos são oriundos dos bairros Jardim Novo Horizonte e Jardim Pacaembu.
Com a detecção de casos autóctones, Jardim Tarumã e Vila Maringá passam a ser consideradas áreas de risco, e Jardim Novo Horizonte, Almerinda Chaves, Residencial Jundiaí, Jardim São Camilo e Jardim Pacaembu como áreas de alto risco de transmissão.
Para identificar quais outros bairros indicam presença dos mosquito, a Prefeitura de Jundiaí realiza o levantamento do Índice de Breteau, que identifica a densidade larvária do mosquito Aedes aegypti na cidade e as áreas de maior risco.
As equipes percorrerão 4,8 mil residências em buscas de criadouros do Aedes aegypti.
A dengue
A doença é uma infecção viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo hospedeiro dos vírus da Zika e da Febre Chikungunya. Formada por quatro sorotipos, cada um deles manifesta uma forma da doença.
Os sorotipos 3 e 4 são os mais graves e podem levar o doente a óbito.
Uma mesma pessoa pode desenvolver a doença mais de uma vez, isso porque depois de contrair dengue, ela se torna imune ao sorotipo e não ao vírus.
Além disso, a doença pode se manifestar de três formas: dengue clássica, com sintomas similares a uma gripe; a dengue com sinais de alarme, normalmente conhecida como a dengue hemorrágica e o tipo mais grave, que ocorre com outras complicações.
Sintomas
O principal sintoma da dengue clássica é, segundo o médico Dráuzio Varella, a febre, normalmente de 39ºC e 40ºC.
Dores de cabeça, prostração, dores musculares, atrás dos olhos e nas juntas são sinais bem comuns da doença. Vermelhidão pelo corpo, coceira, náuseas, vômitos e diarreia também podem estar presentes.
Na dengue com sinais de alarme – ou dengue hemorrágica – além dos sintomas clássicos, entre o terceiro e sétimo dia de sintomas, quando a temperatura deveria começar a cair, há o aparecimento de sinais de hemorragia, como sangramento nasal, gengival e vaginal e rompimento dos vasos superficiais da pele.
Por fim, alterações neurológicas, como delírio e sonolência, sintomas cardiorrespiratórios, insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural (acúmulo de líquido entre os pulmões e o peito) marcam a dengue grave.
Transmissão
São as fêmeas do Aedes aegypti que, através da picada, infectam os humanos com a dengue.
No corpo, o vírus pode ficar encubado de quatro a 10 dias.
Durante esse período, um portador da doença pode transmitir a infecção a uma pessoa saudável através da picada do mosquito e assim, um mesmo exemplar da espécie, pode passar toda sua vida levando e trazendo sorotipos da doença.
Diferente do pernilongo, o Aedes prefere se alimentar durante o dia, no início da manhã ou antes do anoitecer.
A espécie se reproduz e deposita suas larvas em lugares de água parada.
O mosquito Aedes aegypti vivem em habitats urbanos e se reproduz principalmente em recipientes artificiais.
Ao contrário de outros mosquitos, o prefere se alimentar durante o dia; os picos de atividade são no início da manhã e antes do anoitecer. O mosquito fêmea pica diversas pessoas durante cada período de alimentação.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), “a prevenção e o controle da dengue dependem de medidas efetivas de controle de vetores”.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da dengue é feito por um médico, que confirma a presença do vírus por exames laboratoriais com amostras de sengue do paciente.
Se confirmado, não há tratamento específico para a infecção.
São tratados os sintomas e o quadro clínico é acompanhado.
É recomendado que o paciente faça repouso, tome muita água e não utilize medicamentos por conta própria, antitérmicos e anti-inflamatórios não podem ser ingeridos sob nenhuma hipótese.
A hidratação também pode ser realizada por via intravenosa.
Prevenção
Controlando a proliferação dos mosquitos Aedes aegypti, a dengue também é controlada.
Por isso, a recomendação é que resíduos sejam devidamente descartados, recipientes que possam armazenar água, como piscinas e caixas d’água sejam cobertos e inseticidas apropriados sejam utilizados quando necessário.
Telas nas janelas, repelentes e vaporizadores são outras formas de evitar a aproximação do mosquito.
Grupo de risco
De acordo com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, pacientes cardíacos precisam estar ainda mais atentos à doença. Isso porque substâncias que são utilizadas no tratamento das doenças cardiovasculares para evitar coágulos e afinar o sangue, como o ácido acetilsalicílico (no mercado conhecido como Aspirina ou AAS), podem aumentar o risco de hemorragia na dengue.
O mesmo acontece com antiagregantes (como Clopidogrel, Ticagrelor) e anticoagulantes (portadores de próteses valvares, fibrilação atrial).
A recomendação, de acordo com José Franciscico Kerr Saraiva, presidente da Socesp, é que, ao notar os primeiros sintomas, o paciente procure por assistência médica e informe à equipe sobre os remédios que faz uso regular. “Assim, o médico infectologista vai trabalhar em conjunto com o cardiologista, procurando pela melhor opção de tratamento”, comenta.
Campanhas de Controle
A Prefeitura de Jundiaí, através do Grupo Permanente de Monitoramento de Endemias na Saúde, formado por dez unidades de gestão da administração municipal, já começa a trabalhar para organizar as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti.
Enquanto em 2019, foram registrados, de janeiro a novembro, 2.877 casos de dengue em Jundiaí, em 2018, eram apenas 12 casos, 7 apenas no mês de dezembro.
A discrepância é explicada com a chegada do sorotipo 2 ao município, que há dez anos não era registrado.
Para evitar os riscos, a Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) orienta a verificação sistemática dos espaços externos e internos da residência, especialmente nos meses em que a chuva é abundante.
“Mais de 80% dos criadouros encontrados na cidade está em imóveis particulares. Os órgãos públicos farão sua parte, mas cada morador é parte essencial desse trabalho”, afirma o gerente da Vigilância em Saúde Ambiental da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS), Carlos Ozahata.
A longo prazo
Com o objetivo de criar um planejamento a longo prazo, a Prefeitura de Jundiaí, através da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS) também criou o Plano de Vigilância de Arboviroses.
Apresentado pela Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ), o projeto estabelece as ações de cada órgão, como uma campanha multidisciplinar, a ser implantada no verão 2020/2021.