Na entrevista com o presidente da Câmara de Jundiaí, Faouaz Taha, ele falou sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus, ações de combate ao vírus no município, o retorno aos trabalhos da Casa Legislativa, projetos de sua autoria que movimentaram o debate jundiaiense, além de eleições.
Confira nessa entrevista do Tribuna de Jundiaí como o jovem parlamentar tem lidado com essa situação de pandemia e os trabalhos futuros da Câmara.
Tribuna de Jundiaí – Como a Câmara Municipal assumiu a sua parte em colaboração ao combate coronavírus? Quais medidas foram tomadas?
Faouaz Taha – Desde o início da pandemia, a Câmara Municipal foi bem ágil ao combate da pandemia do novo coronavírus. Desde o início fizemos parte do Comitê de Enfrentamento do Coronavírus e Comitê de Crise. Eu como presidente da Câmara fiz parte deste comitê acompanhando todas as reuniões, conversas e coletivas de imprensa. Desde o início acompanhando para a gente entender o que estava acontecendo.
Na Câmara Municipal fechamos o atendimento presencial para a população em geral e a grande maioria dos funcionários, cerca de 95%, trabalharam de casa. Também suspendemos as sessões da Casa e realizamos apenas duas sessões extraordinários para votar projetos relacionados ao combate da Covid-19 e contratação de mais médicos e profissionais da saúde.
Fomos bem cuidados com o retorno e em maio voltamos com as sessões presenciais com todos os critérios de segurança, como álcool em gel, máscaras… Compramos medidor de temperatura. Também aprovamos a redução dos nossos salários em até 30% até o fim da pandemia para poder ajudar ao combate da Covid-19. Foi uma decisão óbvia vendo a população inteira sofrendo e também tínhamos que dar o exemplo, cortando da própria carne.
Também alteramos o horário das sessões para a parte da manhã devido aos gastos excessivos com o pagamento das horas extras pelas sessões noturnas, devido até apontamentos do Tribunal de Contas. Com esta mudança vamos economizar mais de R$ 1,5 milhão até o final de ano. Mas, assim que acabar o decreto de calamidade pública as sessões retornam para o horário noturno.
Tribuna – Como você analisa os resultados do trabalho do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus do qual você faz parte?
Faouaz – Tenho muito orgulho de ter feito parte. Respeito a todos que fizeram e fazem parte deste Comitê, pessoal da Vigilância, secretário de Saúde, profissionais dos hospitais públicos e particulares… Todo o Aglomerado Urbano se envolveu, sob a regência do prefeito Luiz Fernando que é presidente do Aglomerado Urbano de Jundiaí. Desde o início as decisões foram técnicas e baseadas em dados científicos na questão de saúde. Nunca tivemos uma polarização ou discussão política nas decisões.
Ela sempre foi medida pelas questões sanitárias de saúde. Então, tenho muito orgulho e respeito por este Comitê que foi criado, pois foi essencial para o desenvolvimento de boas medidas e enfrentamento da Covid. Lembrando que quem morreu, morreu dentro do hospital. Não tivemos problemas com falta de leito. Tivemos a capacidade de ter leitos nos hospitais para absorver estas demandas.
Então, eu acredito que foi muito técnico, rápido e efetivo as ações do Comitê.
Tribuna – Pensando em “novo normal”, quais serão os próximos passos para Jundiaí nesta possível transição à fase verde?
Faouaz – Pensando no “novo normal” acredito que não temos muito o que mudar. Vamos ter que continuar a usar máscaras, álcool em gel, lavar as mãos e não levá-las para o rosto, continuar tomando todos os cuidados sanitários que temos ouvido desde o início da pandemia e ter respeito e responsabilidade com o próximo. O vírus está aí e com ou sem vacina ele não vai sumir do dia para a noite. Enquanto não tiver vacina vamos ter que redobrar preocupação, atenção e os cuidados, e precisamos viver porque as pessoas precisam comer e trabalhar.
Se todos se cuidarem e respeitar as regras e limites provavelmente teremos baixo índice de contaminação.
Agora se sair, fazer aglomerações, reuniões, praia e aquela bagunça toda, com certeza vai demorar mais para sairmos dessa situação. Mas se seguirmos as regras vamos sair com muito mais rapidez e vamos conseguir lidar com este vírus nos próximos meses. Porque até a vacina sair e ser acessível para toda a população vai demorar e aquelas pessoas que tem comorbidades e tem uma doença grave, mais de 60 anos, com certeza estas pessoas precisam redobrar a atenção.
Tribuna – Após virar lei, em que fase Jundiaí está na questão da proibição dos fogos de artifício com estampido? Vai ser possível fiscalizar?
Faouaz – Esta foi uma discussão muito rica ao longo do mandato, tenho muito orgulho de ter feito parte desta discussão junto a sociedade. É muito legal ver que a população vem se conscientizando através deste projeto. Em 2017, quando perdemos a primeira votação, conseguimos trazer mais gente para o debate e conscientizar mais pessoas. Perdemos em 2018 também e agora em 2020, com o apelo popular, conseguimos a aprovação. Então, foi muito legal esse debate na cidade.
Não só os animais silvestres, domésticos que sofrem, mas crianças autistas, idosos, pessoas com deficiência é uma gama grande de pessoas e animais que sofrem.
Agora, realmente o próximo passa é a fiscalização. Apesar que eu falo que a conscientização está acima da fiscalização, mas aquelas pessoas que ainda insistem em soltar, a prefeitura irá fiscalizar. A gente aguarda a regulamentação da lei. O prefeito já sancionou, mas falta regulamentar e atribuir a alguém este poder de fiscalização e nós estamos aguardando este próximo passo.
Tribuna – Por favor, explique o que é a “Teoria do Elo”, que baliza um dos seus projetos de lei em tramitação?
Faouaz – É de extrema importância trazer para discussão esse assunto para toda a sociedade jundiaiense porque ele trata dos maus tratos em geral. Através desta teoria existe uma conexão das agressões dos animais e quem agride. Então a pessoa que agride o animal provavelmente tem tendência ou já está agredindo alguém em casa, criança, pessoa com deficiência, esposa. Enfim, a pessoa que agride um ser humano tem um certo potencial para agredir um animal. Existe uma correlação entre estes agressores e a forma de agressão por isto criaram esta teoria do elo, pois existe uma conexão entre estas agressões.
Tribuna – Você é autor da lei municipal de prevenção ao suicídio. Neste “Setembro Amarelo” como despertar a atenção para este tema de forma efetiva?
Faouaz – O grande passo foi ter colocado esta data no calendário municipal, o Dia de Prevenção ao Suicídio, que é 10 de setembro. De 2017 para cá eu vejo que o assunto foi muito mais bem discutido na sociedade, muito melhor absorvido. A própria imprensa que tinha um tabu grande para falar sobre o tema, hoje já consegue tratar melhor e abrir um diálogo com a sociedade. Diferentes órgãos públicos também vem falando.
Então, acredito que é isso, através de palestras, moções, lives, a gente levar para a sociedade a questão do suicídio e como as pessoas podem buscar ajuda. Por exemplo, o CVV faz um trabalho maravilhoso, que é o Centro de Valorização da Vida, onde a pessoa pode ligar e procurar um apoio e auxílio. As pessoas não estão sozinhas, elas podem sim buscar ajuda e eu acredito que através desta lei o tema ficou mais visível na sociedade e hoje as pessoas falam mais e procuram mais ajuda.
Tribuna – Você acredita que a pandemia e seus efeitos possam ter aumentado os índices de suicídio na cidade?
Faouaz – Sinceramente não tenho dados sobre isso. Tenho um pouco de receio afirmar que as pessoas estão se suicidando mais, porém eu tenho certeza que os problemas relacionados a saúde mental estão já na sociedade e irão se agravar cada vez mais nos próximos dias e meses. Na pandemia muita gente perdeu o emprego, entes queridos, então as perdas são várias, inclusive a perda da liberdade, as pessoas quase não podem mais sair como antes. Então tudo isso gera uma mudança na sociedade, um transtorno na vida das pessoas e é óbvio que sim, pode acarretar e levar sim ao suicídio, dependendo do caso se for extremo. A gente reforça aqui a importância de falar do tema.
Tribuna – Além da prevenção, como é possível dar assistência às pessoas que já passaram por pensamentos e até tentativas suicidas?
Faouaz – Acredito que é pelo diálogo, mostrando apoio, mostrando que ainda existe vida após estas tentativas, estes problemas todo que a pessoa tem, que ela pode buscar ajuda. Que existem pessoas que também passaram por isso e saíram com muita saúde desta situação. Mostrar que é possível voltar para a vida social.
Eu acredito que o melhor caminho é mesmo o diálogo, pelo apoio e as pessoas vão se apoiando uma nas outras.
Tribuna – Como você analisa que será o pleito este ano com a pandemia? As pessoas terão medo de sair para votar?
Faouaz – Acredito que uma parcela da população terá sim alguns medos em relação ao Covid. De alguns anos para cá já estamos tendo um aumento de abstenções devido a descrença política. Mas como já vemos muitas pessoas na rua, acredito que muitas pessoas vão votar para dar a sua contribuição como cidadã. As pessoas cada vez mais vem participando do processo político, entendendo mais de política e ela quer fazer parte. Sabe que se não votar e participar outra pessoa vai votar e falar por ela. Então eu acredito sim que as pessoas vão votar e colaborar com o processo democrático.